quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Recomeçar

Eu não poderia deixar que os números do calendário mudassem de 10 para 11 sem falar algumas coisas que foram muito importantes para mim nesse ano que terminou:

* O orgulho que tive de minha filha, que se reinventou, guerreira, saindo de um círculo vicioso, rompendo com o que lhe fazia mal, e dando a volta por cima, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Hoje, ao olhar para ela, vi como está linda, radiante, pronta para uma nova vida, repleta, plena de amor próprio, sendo amada e valorizada como merece. Seu olhar está mais brilhante, sua pele, como um  pêssego corado, sua luz irradiando, a cada vez que sorri ...E ela, de uns tempos para cá, vive sorrindo. Minha filha está feliz novamente e isso é um dos motivos que me faz terminar o ano de bem com a vida.

* Meu filho também está feliz, satisfeito em seu novo trabalho, dando um novo rumo à sua vida. Me deu tantos livros esse ano! Com seu próprio dinheiro, com o suor de seu trabalho, me deu vários presentes, sempre com a generosidade e o carinho que lhes são peculiares. O olhar do meu filho, com sua compreensão sem palavras, o abraço sempre aberto, quando mais preciso, isso é uma das melhores coisas da minha vida. Meu arcanjo Gabriel, também é motivo de muito orgulho e tenho imensa alegria e gratidão à vida por ser sua mãe.

* Meu irmão, que após um acidente terrível, no qual poderia ter morrido e que após muito, muito sofrimento físico e emocional, recuperou-se de suas queimaduras e voltou a ser a pessoa maravilhosa que é.
A ele, meu amor incondicional e minha gratidão por me apoiar nos momentos difíceis.

* Meus livros. Escrevi e terminei 2 livros esse ano: Um de contos e um romance. Os contos foram baseados em vivências minhas e de outras pessoas que conheci e foi motivo de muita alegria e também de muita dor. O romance precisou de muita pesquisa e muita imaginação. Mas realizei um sonho que já acalentava há algum tempo, pois a heroína de meu romance é alguém que foi, também, heroína na vida.
Agora é aguardar para que tudo dê certo e se encaminhe para o desfecho que já vislumbro e tenho certeza que se concretizará.
Escrever esses dois livros foi para mim a minha redenção. Graças à minha escrita, saí mais forte, mais confiante e com mais certeza de que vale a pena sonhar e lutar por nossos sonhos, ainda que tardiamente.

* 2010 foi um ano tremendamente difícil para mim. Comecei o ano cheia de problemas das mais variadas formas. A menopausa se instalou em mim de um jeito como jamais imaginei, pois achei que passaria incólume por ela. Mas não, ela fez seus estragos, mas também me fez renascer e me reinventar.
Foi um aprendizado me acostumar comigo mesma, tão igual e, no entanto, tão diferente do que sempre fui.
Ao mesmo tempo em que foi uma época de muitas dores internas, foi uma fase de enriquecimento interior, de auto conhecimento, auto análise e muita, muita escrita. Tornei-me, certamente, um ser humano melhor depois desse ano. Aprendi demais.

* Os amigos que fiz aqui e na vida real. Amizades intensas, verdadeiras, que me empurraram para a frente, me deram forças para continuar. Fizeram com que eu não desistisse.

O Ano Novo é simbólico no que carrega de recomeço, de inovador.
Acho que ele vem sempre embrulhado no papel da esperança, com laços de afeto, brilhos de conquistas, lampejos de boas intenções.
É só mais um dia de um novo ano que se instaura no calendário, mas remete à tantos sentimentos bons, ao que o homem carrega em si de melhor, de realizável, de inventivo, de generoso.
Possibilidade. Esperança.
Estas são as palavras que resumem bem o que todos esperamos do Ano Novo.
Possibilidades. Tantas. Várias.
Acreditemos nelas. Façamos nosso melhor.
Depois, é só aguardar que, cada um de nós, reverbere e ilumine o mundo com a chama desse sentimento que é o que move a humanidade, desde sempre:  A Esperança.
Quero aqui, de coração, agradecer aos meus amigos e à meus filhos por terem mantido acesa em mim essa chama, não deixando que se apagasse, nas horas de desespero.
Graças ao meu foco, ao meu impulso de realizar não sucumbi às ondas de tristeza e desânimo, quando tudo parecia perdido. Fixei meu olhar no meu desejo e fui em busca.
Graças à essas pessoas e ao meu marido e filhos, pude retornar dos meus mergulhos interiores, trazendo pequenas conchas nas mãos. Hoje, guardo algumas comigo para nunca me esquecer do quanto foi difícil esse mergulhar. Outras, quero presentear.
E são elas que hoje ofereço como símbolo de renascimento a quem soube me ouvir, me compreender, muitas vezes discordar de mim e, mesmo assim, me amar.
Que essas conchas representem a Fé e a Confiança de que sempre é tempo de recomeçar.
Um 2011 cheio de Possibilidades e Esperança!
Um grande beijo a todos!
Obrigada.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Semear e Colher - Um Canto de Ano Novo

Passarinhar
Cantar
Voejar
Por sobre os canteiros
Plantados
Regados
Com meu suor-sentimento

Passarinhar
Ciscar
Expelir as sementes
Adubando-as
De mim mesma
Para que brotem
Rebrotem
Em líricas canções
De sentir
Enquanto
Canto
Palavras nascem
Da minha escrita
Rompem a terra
Plantio
Colheita

Passarinho
Eu, passarinha
Vôo livre
Por sobre
Meu verdejante
Quintal
Milharal
Horta
Canteiro
Pomar
Floresta
Eu, sozinha
Plantei cada grão
Semeei
Cada pequena
Semente
Que a chuva veio
E enverdeceu.


Que em 2011, o canto dos pássaros, seus vôos e semeaduras sejam abundantes, nos façam férteis em amor, em dádiva e em generosidade.
Que todos os nossos sentires transformem-se em colheita profícua, farta e generosa.
Que a minha escrita seja abençoada e eu possa, enfim, colher seus frutos.

Obrigada a todos os que tem me apoiado contínua e generosamente.
Obrigada aos que acreditam no meu talento.
Paz, Força e Coragem para todos nós!
Feliz 2011 aos meus amigos e leitores!


Lembranças da Minha Vó

Minha avó
Recitava benzeduras
Rezava cobreiros
Urticárias
Mau olhado
Espinhela caída
Dedão trupicado
Fazia cruzinhas
Com os ágeis dedos
Num dialeto
Complicado
A minha avó
Palavras saíam-lhe
Pela boca
Sem que eu as escutasse
Ou entendesse
O significado
Benzia
Riscava a cruz
Mil vezes
Sussurrava segredos
Palavras mágicas
Sortilégios inventados

Pegava palito de fósforo
Riscava com ele
Por sobre a machucadura
A coceira
O arranhão
Dizia que lagartixa
Tinha passado e roído
À noite
Um pedaço da gente
E deixado o lastro
Impetigo
Esfolado
Na pele
Benzia
Rezava
Sussurrava
E ao final
Dizia: Amém

E saía eu
Pulando
Num pé só
Benzida
De alegria
Pois sabia
Que amor de vó
Curava tudo.

Minha homenagem a todas as avós do mundo.
E à todas as netas que como eu, ainda crêem que, ainda que sem elas, amor de avó cura tudo.



domingo, 26 de dezembro de 2010

À Beira D'água


Água escorrendo pela nuca
Distraídamente descendo
Deslizante
Pelo meio das costas
Sensualmente
Me lembrando
Que estou viva
Corpo molhado
Saindo da água
Gotas
Brilhando
Nacaradas ao sol
Pérolas translúcidas
Misturadas ao suor
Do meu corpo quente
A água desce lentamente
Pela nuca
Entra nos caminhos
Entre meus cabelos
Como se pequeninas formigas
De patinhas frescas
Andassem
Entre os fios
Sensação boa
Carícia da água em mim
Água
Suor
Sangue
A vida ferve
Sob o sol de verão
A piscina azul
Ondeia sob o vento
E o vento
Ah! O vento...
Vem me lembrar que tudo seca...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Existencialista

Estou cada vez mais existencialista
Os fúteis fazem-me perder
A já pouca paciência
Assuntos baratos me deixam exausta
Banalidades me dão ânsias de vômito
Como viver com quem não te escuta?
Como conviver com quem não te enxerga?
E eu, mudando mais a cada dia
E eu, a cada minuto, sendo cada vez mais
A essência de mim mesma
Me depurando
Filtrando
Armazenando
Refletindo
Pingando de conta gotas
Transparente
Em lucidez
Olho à minha volta e só vejo solidão
Falo com as paredes do meu corpo
Desejo com as veias, os nervos, o cérebro, as entranhas
Não encontro eco
Nem respostas
Em volta de mim, só mediocridade
Ausências
Vazios
Passam a vida como quem veio à passeio
Enquanto eu vim para ver, ouvir, pensar
Ando cada vez mais cansada de gente
Procuro ser mais tolerante
Mas, a cada dia estou mais exasperada
Com a burrice
Com a ignorância de sentimentos
Com o deserto de ideias
Enquanto que a cada dia fico mais atéia
(Se é que isso é possível)
Mais descrente
Menos engulo
O que me querem enfiar goela abaixo
Parece que leio as pessoas
E, em vez de enxergá-las por fora, ver seu rosto e seu corpo
O que vejo é sua alma feia, torta, suas vísceras pingando fel
Viro-as do avesso
E sem querer
Enxergo seu lado negro
Aquele que ninguém vê
Sartre, Sócrates, Shopenhauer, Nietzche, Heidegger
Salvai-me dessa indigestão!
Dessa ingestão de bobagens!
Dessa ausência de recheio!
De tanta fome, ando com enjôo
Como numa prenhez
Grávida de mim mesma.

PS- Só é sozinho quem é vazio de si...eu ando tão repleta de mim mesma, que mesmo solitária, não sinto solidão.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Natal Hoje


Acabei de chegar da rua...
Avenidas e ruas entupidas de carros  e loucos motoristas com pressa...
Filas nos supermercados, nas lojas, nos sinais de trânsito...
Fiquei me perguntando quando é que o Natal virou essa loucura.
Porque não me lembro de ter sido assim quando eu era criança. Não havia essa sede de consumo, essa obrigação dos presentes, essa necessidade de ter a última TV digital em HD, 3D, Dolby Stereo, o mais moderno gadget tecnológico, o celular que fala com Marte ou o IPad que lê livros por nós...
Que loucura é essa que toma conta das pessoas nesta época do ano?
Que se instala em seus corpos, como se possuídos, como se um sinal verde fosse aceso, liberando para a gastança, para as compras... Para que o ter dê seu lugar ao já tão parco, ser.
Fiquei atônita ao ver ontem, num shopping aqui perto de casa, um jovem casal, impaciente um com o outro, quase brigando, porque a filha, pequena ainda, estava com fome, e eles, nas compras, não queriam ou não podiam parar...
E essa gente ainda fala em Jesus, em Cristo, em nascimento, em religião, em fé?
Os cartões de crédito explodindo em contas a pagar em 2011.
Uns comprando o que não podem, mas desejam.
Outros, comprando o que já tem de sobra e nem sabem bem porque, mas querem mais...
Dando o que não têm possibilidade de dar e outros ganhando o que não precisam porque já tem demais...
Está na hora de repensar isso.
Eu já não suporto mais esses natais assim...Parece que tudo perdeu o sentido.
Tudo bem que é um motivo para as famílias se reunirem, as pessoas se confraternizarem... Mas será que não passa disso?
Então para que essa loucura toda, eu me pergunto?
Não seria necessária toda essa parafernália, essa enlouquecida celebração para demonstrar apreço, carinho, afeto...
Será que tudo começou com a publicidade?
Com o Santa Claus que a Coca Cola universalizou?
Com o desejo da posse?
Acho que é chegada a hora de revermos nossos atos. Vejo tantos reclamando, dizendo que já não vêem sentido no Natal, mas, no entanto, continuamos fazendo tudo igual e, desnecessariamente, vamos repetindo, sem questionamentos...
Não seria muito melhor, mais bonito, mais humano, que todo esse dinheiro que gastamos fosse mandado para uma instituição de caridade? Uma ong, séria, de ajuda aos animais? Para um hospital sem recursos?
Tenho lido e conversado com pessoas que pensam como eu: Que isso tudo é sem sentido.
O Natal virou uma data comercial, um motivo para os shoppings, as lojas e o comércio comemorarem, a cada ano, um novo recorde de vendas.
Hoje vi um motoqueiro e sua motocicleta sendo atropelados por um caminhão. Ainda bem que só a moto se danificou. O rapaz saiu ileso...mas fiquei pensando: E se tivesse acontecido algo com ele naquele caos que estava o trânsito? Seria uma morte a mais, uma vida a menos...E tudo continuaria como antes, nada mudaria, as pessoas seguiriam, indiferentes, em busca dos "presentes", das compras, no caos particular de cada um...
Me deu uma tristeza imensa...Vi como a humanidade se tornou realmente um formigueiro, cego a tudo.
Como digo sempre, vejo a cada dia mais e mais como somos meras formigas, sem a menor noção da nossa insignificância e da nossa temporalidade.
Me perdoem por ter escrito esse texto triste, feio, sem a aura de encantamento que as pessoas esperam do Natal, mas não podia deixar de comentar sobre meu apavoramento diante do que nos tornamos: Robôs.
Seres robóticos programados para repetir, comprar, gastar, dar, receber, endividar-se, não pagar...Repetindo, todos os anos, o que espera de nós essa sociedade fútil e consumista onde vivemos e da qual fazemos parte. Que loucura, que hipocrisia!
Enquanto isso, milhões morrem de fome, aqui, ao nosso lado, no norte e nordeste do Brasil ou na Etiópia ou em Gana, ou no Iraque...pelo mundo afora.
Feliz Natal pra nós! É só não se lembrar de tudo o que nos incomoda e nos causa desconforto, basta continuarmos na nossa lavagem cerebral de consumo desenfreado e fechar os olhos...
É mais fácil ser feliz sem pensar demais...Aliás, é melhor não pensar...Não pensar...Não pensar....Não pensar...Não pens...Não pen...Não p...Não...bip, bip, bip....

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Prazer do Sonho

Será possível

Que um dia...

O prazer de segurar um bom livro....

De viajar montados em suas linhas...

Cavalgando em  cada letra como em um cavalo mágico

Imaginar outros mundos, terras distantes, cavaleiros, gigantes, jardins encantados...
Voar, borboletear, passarinhar...

Será que um dia, tudo isso será substituído por uma máquina, um computador, uma tecla?

Haverá substitutos à altura de um livro?

Livros: Que fazem o tempo parar de correr?
Que fazem com que esqueçamos tudo à nossa volta?

Livros: Que podemos pegar e reler e folhear mil vezes e voltar atrás e ler novamente e mais outra, passando um lápis em volta das frases preferidas?


Será isso tudo substituído por outra forma de viagem?
Por outro jeito de imaginar?
De sonhar?
De vivenciar?
O papel, seu perfume, o som das páginas viradas...O silencio à nossa volta, quando só uma luz acesa nos lembra que há vida fora dali, daquele retângulo cheio de revelações e segredos?

Haverá outro modo de ver o mundo que cada livro traz dentro de si ?
Não creio nisso...
Não creio que haverá substitutos para os livros...Nunca, jamais eles deixarão de existir em sua forma de papel...Assim como não há substitutos para os sonhos que cada homem é capaz de sonhar...
L I V R O S
Quando abertos nos levam com eles, sem volta, lá, para aquele lugar onde moram os sonhos e que só quem os decifra, sabe onde fica...
Voemos...
Que em 2011 mantenhamos intacta a nossa vontade de sonhar e mais do que tudo, mantenhamos vivo o prazer do sonho.
Felizes Festas com Saúde, Paz e Bem!
Um grande beijo a todos os meus leitores e amigos,

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

As Polpetas do Tio Alberto - Um Conto de Natal

Estava ainda agorinha, fazendo almôndegas para o jantar e, enquanto fazia os bolinhos e os fritava, me lembrei do meu Tio Alberto, casado com a irmã de meu pai, Tia Lygia, que eram padrinhos de minha irmã.
Eles não tiveram filhos e adoravam os sobrinhos. Minha mãe dizia que meu tio Alberto era mais italiano que minha tia...ele, filho de espanhóis, ela de italiano com brasileira, filha de italianos...
Ele era sangue quente, falava alto, se empolgava, as veias estufavam...Havia sido pracinha na Segunda Guerra e eu gostava de ouvir suas estórias.
Ele sabia que nós, as crianças, adorávamos as polpetinhas que ele fazia, com carinho de artesão, minúsculas, bolinhas perfeitas e deliciosas, perfumadas e sequinhas...
Eu e meus irmãos tínhamos o costume de passar férias com eles. Acho que minha mãe, com pena deles não terem tido filhos, nos mandava durante alguns dias das férias. Nós adorávamos ficar lá, pois eles nos agradavam de todas as maneiras, nos levavam ao cinema, nos davam presentes...A única coisa que eu odiava era que quando eu tinha as crises de asma, ele colocava cataplasmas quentes no meu peito para que eu expectorasse...Para quem não sabe, cataplasma era um tipo de creme que vinha num pote de vidro e tinha que ser aquecido e colocado sobre o peito e costas antes de dormir. No que consistia aquilo, na verdade, eu não sei, só sei que melhorava mesmo...Coisas do tempo do Dom João Charuto como diria minha mãe.
Pois bem, meu tio Alberto cozinhava muito bem e sempre procurava nos agradar fazendo comidas das quais gostávamos...Eu, uma chata de galochas, era péssima para comer, magra feito um graveto
(quem diria, hoje vivo a fazer regimes!), não gostava de nada, era mesmo muito inapetente e ele a querer me entupir de comida toda vez que eu ia para lá...Hoje, fico pensando que ele tinha mais instinto maternal do que minha própria tia, pois ele cuidava mais da gente, ficava mais preocupado, enquanto que minha tia era mais de fazer nossas vontades, de nos levar a passear.
Eles tinham mania de limpeza. Os dois. A casa de minha tia tinha um cheiro que nunca mais senti em lugar nenhum, parecia uma câmara à prova de poeira e sujeira, de tal modo asséptica, com tal cheiro de limpeza...Dizia minha mãe, com seu espírito crítico (que aliás, herdei), que elogiava, deselogiando: " As panelas da Lygia, ah, a gente pode se olhar nelas, parecem espelhos", o que no fundo era uma crítica ao exagero de limpeza de minha tia.
Não sei como eles gostavam tanto que fôssemos para lá "bagunçar" a ordem e a milimétrica arrumação de tudo. Talvez para isso mesmo, para terem o que arrumar, visto que nada era desarrumado nem tinha um grão de pó...Talvez para não sucumbirem ao tédio levavam as crianças da família para passarem dias por lá.
Ao fazer as polpetas ou almôndegas hoje, me lembrei com carinho desse meu tio, num dos últimos Natais em que passamos juntos, com os dois ainda vivos, minha mãe também e meus filhos, bem pequenos ainda, o chamando de vovô Beto, por causa de sua vasta cabeleira branca, coisa que possuía desde moço...
Ele chegou, todo feliz, com um pirex de polpetinhas minúsculas, feitas com todo amor, e, mal colocou os pés em minha casa, o pirex foi ao chão e espatifou-se todo e as polpetas rolaram em meio aos cacos.
Seu olhar de tristeza e decepção foi tão grande...coitado! Hoje ao me lembrar disso me vêm lágrimas aos olhos...era a maneira dele presentear as crianças que um dia fomos, através de meus filhos e dos outros sobrinhos netos. Fazer as polpetas que meu irmão amava em criança...e que eu e minha irmã também gostávamos muito...aquele ritual de todo ano ouvir alguém dizer: "Alberto, você faz as polpetas... As polpetas do Alberto não podem faltar no Natal"...
Lembrei de meus irmãos, sobrinhas ainda crianças, meus filhos pequenos, minha madrinha, minha mãe, todos reunidos em minha casa no Natal.
Lembrança triste e doce. Eu, hoje, uma jovem senhora, ao preparar o jantar, dei de cara com meu passado, com um tempo que embora não volte, deixou um sentimento bonito, uma lembrança com sabor de Natais que já não existem, mas que no entanto, foram tão felizes que não me dão tristeza... Só saudade...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ontem: Noite de Emoção e Menção Honrosa!

Amigos, ontem a noite foi de muita emoção!
Fui selecionada num concurso que a Universidade Federal Fluminense promoveu para comemorar o Jubileu da UFF.
Seria lançado um livro, uma Antologia, pela EdUff, a Editora da Universidade, com os vinte melhores contos, poesias e crônicas, em torno do tema: " 50 anos...E Agora?"
Minha crônica foi uma das selecionadas e recebi menção honrosa!
Que felicidade! Ter sido uma das vinte melhores, entre tantos candidatos, com uma comissão de jurados da qual fizeram parte escritores, professores de literatura, jornalistas, pesquisadores, poetas...Nossa! Quando recebi o e-mail me avisando que era uma das selecionadas chorei muito de emoção! Seria a primeira vez que um escrito meu estaria publicado num livro de verdade!
Posso dizer que termino o ano, senão realizada, me sentindo mais próxima de meu objetivo.
As fotos aí em cima, mostram bem minha felicidade com meu livro nas mãos, rodeada de meus filhos e marido, minha amiga-irmã, Beth que foram me dar seu apoio e abraço nesse momento tão especial.
O livro estará à venda na livraria da Uff e no site da EdUff.
Por enquanto, só tem uma crônica minha, mas em 2011 me aguardem!
Entrarei com toda a força, vontade e garra que só uma leoa que se redescobriu há pouco tempo é capaz de ter!
Obrigada à quem acreditou em mim, aos amigos que tanta força tem me dado, aos meus filhos e marido que tanto me incentivam em busca do meu sonho, à minha amiga Beth e seu marido Vilmar, pela amizade, apoio e pelas fotos.
Tenho que agradecer a tantos, que tanto me incentivam, que nem caberia aqui: Léinha, Érica Matos, Miguxa, Manu, Bombom, Manuel, Alê, Lumita, Macá, enfim, todos os meus amigos, mais do que especiais, únicos!
2011, aqui vou eu!
Sei. Posso. Sou. Quero. Consigo.
Porque Sim!

A Menção Honrosa, que já está num quadro!

Beijos a todos!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Editamos Nossa Imagem?

Ontem vi um debate muito interessante, no Programa Saia Justa, sobre as verdades e mentiras na internet. Sobre como as pessoas se mostram e como são de verdade.
Será que nos editamos? Alguns achavam que sim, que ninguém se mostra como é...que as pessoas divulgam perfis falsos e se escondem atrás da tela do pc para mostrar coisas que não são...
Fiquei pensando sobre o assunto e pensei primeiro em mim: Eu sou muito mais verdadeira aqui, do que na vida real. Na vida, a gente se intimida ao olhar para as pessoas e dizer o que pensa, ou o que acha, com medo de magoá-las. Aqui, não, pelo menos para mim, fica muito mais fácil dizer o que penso ou acho sem o olhar do outro me inibindo ou censurando...
Sou, na vida, uma amostra censurada do que sou aqui.
Aqui, realmente tenho pouca auto censura, mas lógico, que alguma sempre há...
Aí, pensei se na vida real também não nos editamos o tempo todo...ao escolher uma roupa e não aquela outra, ao escolher um perfume, ao pensar no que vamos falar ao encontrar alguém...Isso é edição. Ninguém é o que realmente é, a não ser com ele mesmo, sozinho, cara a cara com sua alma. Sempre procuramos parecer melhores do que somos...ou porque realmente temos uma ideia cheia de auto estima da gente mesmo, ou porque queremos parecer bem para os outros sejam amigos, conhecidos ou, simplesmente, causar boa impressão em quem nos conhecer...
Tenho visto muito que todo mundo é sempre muito bonzinho, muito legal, muito compreensivo...Poucos, realmente muito poucos, dizem quem são, o que pensam, apontam suas falhas, seus próprios erros.
E, cabe aqui, uma nota de pé de página: ninguém precisa ser grosseiro ou mal educado para dizer o que pensa, embora, nós brasileiros, levemos tudo para o lado pessoal, até mesmo críticas construtivas...Mas, voltemos à auto edição de nossas imagens.
Gostaria de saber o que vocês pensam, meus amigos.
Somos todos tão bonzinhos e perfeitos como nos mostramos aqui?
Onde fica o demoniozinho, o monstrinho que cada um tem dentro de si?

Ou seremos todos uns fofos, uns amores, umas doçuras?
Somos aqui como realmente somos, de verdade, na vida extranet?
Cartas para a redação, please...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Leques, Menopausa e Modismos

Estava em Roma, há pouco mais de dois anos atrás, em setembro, com um calor de matar, andávamos pela cidade, eu e meu marido, mortinhos de calor, suando em bicas...
Fomos numa feira no Campo Dei Fiori e havia um indiano vendendo uns leques iguaizinhos aos que minha mãe tinha e usava muito quando estava viva...Leque, no meu tempo de garota, era coisa de senhorinhas...Jamais havia pensado em usar um até que... entrei na menopausa!
Tudo começou num dia em que fui à casa de minha mãe, hoje de minha irmã, e, dei de cara com um leque, de madeira de sândalo, todo furadinho, lindo, que eu gostava desde criança...Avisei à minha irmã que iria pegar para mim...minha mãe tinha deixado outros: de renda e tecido, mais bonitos e trabalhados até, mas eu preferia aquele, por causa do cheirinho que me lembrava minha mãe...Além do que, gosto de coisas mais simples e, hoje em dia, acho que "menos é mais".
Quando vi a tal barraca do indiano, em Roma, cheia de leques, parecidos com o meu, e eu, mortinha de calor, falei na hora pro meu marido: Quero um! Preciso de um, já! Eu não havia levado o meu, claro: medo de perder...Compramos, nem me lembro mais quanto custou, mas saí eu de lá me abanando feito louca e feliz da vida, com um ventinho no rosto...O leque do indiano não aguentou muito tempo, se arrebentando todo...o fio de nylon que usam, para unir as varetas, deve ser feito também lá, e a qualidade é péssima...
Pois bem, desde que achei o tal leque de sândalo de minha mãe, nunca mais me separei dele... Aonde vou o carrego na minha bolsa e vivo a me abanar com ele, aonde quer que esteja...Fico até preocupada...tenho um compartimento só para ele, para que não arrebente...mas, como toda coisa antiga, ele é bem feito e de boa qualidade, então, esse vai durar...E nem sei quantos anos tem, mas deve ter muitos...

Comecei a usar e aí notei que minhas amigas, todas na mesma faixa etária, diziam pra mim: Nossa, que boa ideia, vou comprar um também...Acho que nunca passou pela cabeça delas de usar um leque...a gente fica pensando que leque é coisa de senhorinhas, sem nos lembrar que JÁ somos senhorinhas!
Outro dia li que está na moda dar leque em casamentos, e que moças e jovens da Zona Sul do Rio, como Ipanema e Leblon, "lançaram" a moda de usar leques, pois são fashion, etc e tal...
Peralá, fiquei pensando:
Será que é assim que uma moda começa? Será que fui eu quem começou? Sinceramente, não me lembro de ter visto ninguém antes de mim, nos últimos tempos, fosse de que faixa etária fosse, usando leques para espantar o calor...quando muito, no carnaval, dão de brinde aquelas ventarolas de papelão, de propaganda de cerveja para as pessoas...mas leques?
Assim foi também com a palavra "escrevinhadora"...Meu pai usava muito essa palavra há 50 anos atrás...
Aí passei a usá-la aqui no blog, e inclusive a uso como pseudônimo quando participo de seletivas literárias...Não é que outro dia li numa revista umas jornalistas dizendo que foram elas que inventaram a palavra "escrevinhadora"?
Ah não, isso não, pensei eu!
Claro que a palavra já existia e não fui que a inventei, mas que antes de mim, não tinha visto quase ninguém usar a não ser meu pai e uns poucos...Fui pensando como uma moda começa...como um termo "pega", como o ser humano vai captando uma coisa daqui, outra dali e vai incorporando como hábito seu...E, muitas vezes, imitando sim, descaradamente...No mundo real e virtual vemos disso aos montes!
Bem, isso é discussão para vários posts...quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
Como leio muito e de tudo, às vezes fico até sem saber onde li tal coisa, mas é fato que em algum lugar ou através de alguém, uma moda ou modismo começou...
Essa estória do leque, sei não...acho que, pelo menos aqui no Rio, fui eu...
Esse é parecido com o leque de sândalo de minha mãe...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Marca D'Água

A carta estava lacrada
Com as minhas iniciais
Era um envelope discreto
Só o lacre dava sinais
De que o que ali havia
Era coisa preciosa
Requintada
Poderosa
Abri...
Não havia nada dentro...
Ou melhor
Havia sim
Uma palavra embutida
No silencio do momento:
Lacre
Marca D'água
Que foi feita
Em mim
Assim que nasci
Que marcou minha alma
Pra sempre
E que eu nunca percebi
Somos todos feitos assim
Com marcas d'água discretas
Mas profundas
Como em mim
Forjaram e fui forjada
Com tudo o que vi e vivi
Tudo deixou sua marca
Inclusive
O que não vi
Assim, nosso eu mais profundo
Vai seguindo pela estrada
Por caminhos
Descaminhos
Trilhas
Montanhas
Abismos
Mudamos
Nos transformamos
Mas as marcas de nascença
Por mais que mudemos tudo
Continuam
Indeléveis

Num cantinho mudo
Imóvel
Imutável
Núcleo duro
Lacrados
Viemos ao mundo
Carimbados e marcados
Com sinais
Que muitas vezes
Nem sabemos
Mas que estão lá
No fundo
Naquela carta
Que um dia recebemos
Endereçada
À nós mesmos....

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pintei...Pintei...É Tão Bom Pintar Assim...

Como falei em alguns comentários estava com uma encomenda grande de porcelanas para pintar.
Uma amiga da minha filha queria levar de presente para os parentes do marido nos EUA.
Pintei durante todo o fim de semana e hoje passei a manhã pintando...Estou exausta, com dor nas costas, mas valeu a pena...
Acho que os presenteados vão gostar...
Pintei vários conjuntos como esse da foto, só que um diferente do outro...e mais algumas coisas para vender, outras para dar de presente aos amigos e amigas...Minha filha, também fez um blog : o Moça Bonita Não Paga só para vender nossas artes: eu com as porcelanas e cerâmicas e ela, com suas roupas exclusivas e com estamparia desenhada por ela...lindas! Quem quiser dar uma olhada, tem outras coisas lá, também.

Adoro pintar...só que fico com preguiça de remexer nas coisas, tirar tudo do lugar onde guardo, trazer para a mesa da cozinha, (que é onde gosto de pintar por causa da luz fria...) pincéis, pós de tinta para porcelana, óleos, louças...mas depois que começo não quero mais parar...é uma delícia!
E tome de descer as escadas para colocar tudo no meu forno de cerâmicas que fica na garagem...e tome de subir de volta, carregada com bandejas e mais bandejas de louças pintadas e com o maior medo de deixar cair e quebrar...
No fundo isso é uma das coisas que mais gosto de fazer. A primeira, vocês já sabem: escrever, claro!
Pois é, assim foi meu fim de semana e ainda tenho algumas coisas no forno queimando...a encomenda será entregue amanhã, mas ainda tenho uns presentinhos para terminar...
Beijos,