
"Pai como é que faz isso?"
Doutor, porque tenho que tomar isso, o que esse remédio faz?
Mãe, porque não posso ir sozinha?"
Etc, etc, etc...
Nunca aceitei as coisas como chegavam pra mim, tinha que saber a causa, porque era assim ou assado.
Nunca acreditava nas coisas que me contavam se não me convencessem por A+B.
Um dia, minha mãe me colocou para ser fadinha, ou seja, aspirante a bandeirante...cheguei lá (era no pátio da Igreja que frequentávamos) com uma amiga e, quando me deram um livro, cheio de regras militares para estudar, decorar, já senti que não gostei...e ainda tinha que fazer fila, marchar e fazer tudinho que os milicos faziam...ah! pra que...fui embora na mesma hora e disse pra minha mãe que não ía mais...
Não me lembro mais o que ela disse...mas se insistisse, eu não iria...
Eu não era desobediente, mas tinha personalidade...isso, sempre tive...
Eu tinha que ir à missa todos os domingos, e ia, quase sempre, mas às vezes não estava à fim e escapava pra casa de alguma amiga...
E biquini? Minha mãe não deixava que nem eu nem minha irmã usássemos...dizia que era feio uma moça mostrar o umbigo...
Eu retrucava e dizia que se era por isso, eu colocaria um band aid no umbigo...
Ela não deixava...e o que eu fazia?
Saía de casa de maiô e trocava por um biquini na casa de uma amiga...e lá ia eu, feliz da vida pra praia ou pra piscina do Fluminense , clube do qual éramos sócios...Sem nenhuma culpa, nenhum remorso...afinal, não estava fazendo nada errado...
Nunca deixei de fazer nada que eu queria...se minha mãe proibia, eu fazia sem ela saber...
Várias vezes, minha mãe me disse: "Você é a única que me dá trabalho...tomara que case logo..."
Talvez, por isso, tenha casado tão cedo.
Fui criada ouvindo minha mãe dizer pra não demorar lavando muito "as partes" no banho...era assim mesmo que ela falava "as partes"...com certeza tinha medo que eu gostasse e descobrisse como era bom demorar muito "por lá"...Xô demo...coisa feia...pecado...
Com religião, sempre fui questionadora, e, como já falei antes, fui deixando de crer ao longo da vida, até que esse ano, foi definitivo: virei atéia...
Quando falo isso, as pessoas me olham como se eu fosse um ET...
Primeiro, acham que não ouviram direito...Depois, vem a catequese..."mas em Deus, você acredita, né?" Quando digo que não...me olham atônitas e começam o sermão...não adianta eu falar que não creio em nada, elas continuam argumentando..."mas olha, se não existisse um deus..." e por aí vai...e é aí que vejo que elas precisam se ouvir pra convencer a elas mesmas do absurdo que é crer num deus que vê o que cada formiga humana faz...que moramos num imenso Big Brother....Haja câmera!!!!
Acho que quando vou embora, elas dizem: "Coitada, essa aí vai queimar nas labaredas do inferno"...
Será que é por isso, que o fato de eu ser ateia, incomoda tanto os outros?
Acho que é por toca num assunto que nem elas mesmas tem certeza...
Juro, pelos meus 3 neurônios, que não faço mal a ninguém, sou legal, amiga, leal, justa...sei pedir desculpas, embora os ditos religiosos, nem sempre perdoem...
Não é porque não creio que sou uma demônia em forma de mulher...
O que está acontecendo é que estamos nos encaminhando para um retrocesso em todas as esferas, seja racial, religiosa, de costumes.
Enquanto a ciência caminha pro futuro, as religiões retrocedem ou empacam nas mesmas ideias retrógradas e infundadas de séculos e séculos atrás.
E, pra mim, o que é pior, as pessoas NÃO pensam, não raciocinam, simplesmente aceitam sem questionar, sem opinar, sem repensar...
Se alguém aí, tem dúvidas sobre as religiões, leia o livro brilhante de Richard Dawkins: Deus, Um Delírio.
Não foi esse livro que me fez ser ateia, mas ele demonstra por A+B que a probabilidade de deus existir é praticamente nula. E, como sou adepta de provas, ele veio corroborar o que eu já pensava antes.
Deixo aqui uma frase do livro:
"O Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a anos-luz de distância do Deus intervencionista, milagreiro, telepata, castigador de pecados, atendedor de preces da Bíblia, dos padres, mulás e rabinos, e do linguajar do dia a dia. Confundir os dois deliberadamente é, na minha opinião, um ato de traição intelectual".
E, uma de Carl Sagan:
"...se por "Deus" se quer dizer o conjunto de leis físicas que governam o universo, então é claro que esse Deus existe. É um Deus emocionalmente insatisfatório...não faz muito sentido rezar para a lei da gravidade".
Acho esse livro altamente recomendável para quem acredita que ateus são de outro planeta.
