domingo, 6 de março de 2011

Dois Mundos

desenho vladimir kush

Eu vivo entre dois mundos. O mundo da criação, do imaginário, onde meus pés não tocam e minha cabeça vive. Lá é um outro lugar que não este aqui...Mas vivo também no mundo real, habitado pelas pessoas que me cercam e no qual transito como um fantasma.
Vivo com pessoas que não entendem esse meu jeito de enxergar as coisas, esse meu transcender do mundo real, que não me alcançam, por mais que me puxem para baixo, que não lêem nas minhas entrelinhas...Simplesmente não conseguem enxergar.
Passei minha vida inteira sozinha. Não tenho com quem dividir meus sonhos, por mais que os divida com eles e eles torçam por mim...
Algo inatingível nos separa, algo impalpável, inexplicável porque não se toca, só se sente...E se sente o não sentir...
Quantas vezes ao longo da vida me perguntei o que estaria fazendo ali, ao lado deles?
Pessoas tão diferentes não se completam, podem se amar, mas são tão incompatíveis como água e azeite...
Meu mundo é o das artes, da leitura, do intangível...O deles é o mundo material, sólido, o que conseguem ver e calcular através de números e contas e chegar à uma solução conclusiva...
No meu não, não há conclusões...meu mundo é o das perguntas, das questões, das filigranas contidas numa folha que cai, no voo de um pássaro, num pio que vem da floresta.
Como conciliar vidas e olhares tão diferentes?
Como manter a chama acesa, o interesse aguçado?
Como não cair no marasmo, na solitude, na sensação de desconsolo?
A escrita me salva. Recolho-me nela, escondo-me nela como num bote salva vidas...
Na madrugada concluo que me faltou coragem para mudar. Para pular fora do barco que me levaria pra bem longe do lugar onde estou, onde minha alma sucumbe, entre espasmos e falta de ar.
No silencio, ouvindo a chuva que cai, continuo, como durante toda a minha vida, a me preencher de mim mesma...Meu habitat mora em mim, e ainda bem, pois não importa onde eu esteja, ele estará lá comigo, mesmo que me silenciem ou não me ouçam...
Escritores, poetas, artistas são seres incompreendidos pelo resto dos mortais, mesmo que pensem que os entendem, isso é só uma ilusão.
Continuo, sigo, a vida não é perfeita, nossas escolhas são falhas como nós, ninguém é perfeito, nem mesmo os solitários como eu, que fazem da noite sua folha em branco...
Amores são desencantos, desencontros que se esbarram de vez em quando...

35 comentários:

Desconstruindo a Mãe disse...

Não há mulher no mundo que não se sinta dividida entre identidades, posturas, conflitos, situações e cobranças às vezes tão opostas e tão semelhantes... tudo ao mesmo tempo.

A solidão materna existe, porque só quem o é consegue entender o cansaço, a doideira, a paixão e a satisfação com que se vive essa escolha.

E a guerra interior da mulher que quer ser profissional, amada, amante, esposa, filha, amiga, irmã, o que privilegiar, o que priorizar? Quem veio primeiro? Quem hoje tem mais urgência de se abrir?

E a solidão da escita, sim, ela é necessária, para dar espaço para que se extravase um universo de contradições que cada ser humano carrega em si. São muitas vozes clamando, fofocando, criticando e também calando.

Adoro que tenha uma pessoa que tão sabiamente consegue dizer o que sinto, ainda que não esteja na minha pele!

E pode ser que não tenhas tido a intenção de dizer nada do que eu entendi. Não é fabuloso?

Beijão, feliz domingo!
Ingrid

Vanessa Anacleto disse...

Glorinha, parece que essa sensação é comum a quem cria e transita pelo imaginário. Mas, no final das contas, essa nossa natureza é uma vantagem. Sempre há onde se refugiar.

abraço e bom carnaval, seu blog está muito bonito.

Anônimo disse...

HOUVE UM TEMPO QUE CAHEI QUE ERA DE OUTRO PLANETA E PASSEI A CREDITAR NISSO ..EU FALAVA A AS PESSOAS ENTENDIAM B...PASSEI PELA ADOLECENCIA TODA TENTANDO ME MOSTRAR QUEM EU ERA..ME CASEI FUI OBRIGADA POR UM TEMPO A SER QUEM NÃO ERA PRA AGRADAR QUEME STAVA MAIS PROXIMO A MIM...DEPOIS DE UM TEMPO UM LOMGO TEMPO ME REBELEI E ME MOSTREI QUEM SOU RELAMENTE A QUE VENHO O QUE QUERO E NÃO QUERO....FUI VISTA COMO MAL EDUCADA ...AS VEZES GROSSA...RUSTICA..MAS NÃO FAZ MAL HOJE SOU QUEM SOU..MAS COM UM DETALHE TENHO QUE GUARDAR MEUS SONHOS E FANTASIAS PARA MIM..NÃO POSSO DIVIDIR COM AS PESSOAS QUE ME RODEIAM ELES SIMPLISMENTE OLHAM PRA MIM DEPOIS DE CONTA LAS COM UM OLHAR ASSIM"""COITADA ESTA SURTOU DE VEZ""" OU ENTÃO ""TEMOS QUE INTERNA LA NUM HOSPICIO...RSOLVI DIVIDIR COMIGO MESMA MEUS SONHOS INQUIETAÇÕES E FRUSTRAÇÕES POIS O QUE ME É MUITO PARA AS PESSOAS POR PERTO É POUCO DEMAIS REOLVI PARAR DE TENTAR ENFIAR NA CABEÇA DELES O QUE NÃO OS INTERESSA E DEIXAR AQUI NA MINHA SOMENTE EU E EU SABEMOS O QUE VIVEMOS MESMO QUE SEJA EM SONHOS EM ALGUM LUGAR ..NUM PAIS DISTANTE DAS MARAVILHAS ..OU EM CADA PENSAMENTO QUE TENHO...NÃO IMPORTA O QUE INPORTA QUE EU SOU ASSIM..VOU SER ASSIM SEMPRE E JAMAIS VOU MUDAR ..A NÃO SER QUE EU QUEIRA MAS JA DECIDI ..NÃO QUERO"""PRONTO!!!!!!

FICOU CONFUSO OUTRA VEZ MAS SEI QUE VOCE ME ENTENDE RSRSR
BEIJOS

SEJA VOCE...

DEIXE O RESTO PRA DEPOIS...AFINAL TODOS NOS SABEMOS INTERPRETAR DE VEZ ENQUANDO NÉ?FAZER O QUE SE A VIDA NSO FORÇA A SER ASSIM ???

OTILIA

Unknown disse...

Oi Glórinha!!! Excelente texto...muito bom...reflexivo.
Interessante como seus posts sempre vem a calhar...caem como uma luva.
Beijos doces e perfumados para vc querida e um ótimo feriadão.

Glorinha L de Lion disse...

Oi Ingrid, sua interpretação foi para um outro lado, válido tb...mas não era a isso que me referia...mas à solidão à dois. Meus filhos já são adultos, hj sou eu, comigo mesma...é a fase mais difícil da vida, a maturidade, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Vanessa, ainda bem que tal como as tartarugas, nossa casa/sentimento anda conosco aonde quer que a gente vá...bom feriadão, obrigada, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Otília, só te digo uma coisa: todo homem é uma ilha, mesmo que digam que não...beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Majju, bem vinda de volta! Obrigada, beijos, bom feriadão!

lolipop disse...

Porque será que estamos condenados a ser assim tão solitários?
Próximos apenas durante breves momentos, somos no fundo, como diz Murakami no Sputnik, pequenos satélites, tendo como único elo de ligação ao planeta, a gravidade.

"Solitários pedaços de metal que se encontram de repente nas trevas do espaço, cruzam-se no seu caminho, e depois separam-se para sempre..."

Beijos muitos amiga querida!

K. Mendes disse...

Seria absurdo eu lhe dizer que me descrevestes perfeitamente em teu texto? Seria absurdo acreditar em cada palavra sua indentificando-as com meu ser? Ah, um dia, um dia irei escrever como voce. Por enquanto sou uma escritora nova, poeta desde que nasceu e vivendo apenas o primeiro capítulo do meu livro de vida. Amei seu blog tanto que irei ler ele todos os dias linda flor, parabéns. Se quiser ler os meus textos visite o meu http://hiperativasingular.blogspot.com/

Glorinha L de Lion disse...

Querida Loli, ainda estou no começo do livro, mas já posso te dizer: ele está me inspirando...esse texto eu fiz, entre outras coisa ,porque o li. No outro blog fiz um poema, porque o li...Acho que na continuação de lê-lo, ele irá mexer demais comigo, pois estou em sintonia total com ele. Obrigada amiga, mil vezes. Beijos grande,

Glorinha L de Lion disse...

Acredito sim Karol. Acredito que a voz dos poetas, de um que seja, fala por todos...beijos, muito prazer,

Unknown disse...

Para a nossa alma o mundo é o que se ama.

Beijo.

Glorinha L de Lion disse...

Oi Manuel, querido, meu mundo é a escrita e é a ele que eu amo, a cada dia mais, beijos,

Lívia Azzi disse...

Que bom que você tem seu mundo imaginário para te salvar desse mundo utilitarista no qual que vivemos, Glorinha!

Quem é que pode garantir que o último é mais tangível do que o primeiro? Como questiona a Ana Suy do blog “Significantes”: “há algo mais real do que uma fantasia?” .

Muitas vezes, o que nos faz viver para além da mediocridade do respirar e existir são as nuances metafísicas dos nossos próprios pensamentos e escolhas.

Se nosso próprio mundo não for de alegria, o que mais nos restaria?

Beijos e carinhos...

pensandoemfamilia disse...

Olá Glorinha

A empatia é possível, mas ninguém sente como o outro a sua própria dor.

O que nos relata é muito comum acontecer entre os casais. A intimidade, o tocar a alma, depende de muita aceitação das diferenças e poder com elas (diferenças)tecer a complementaridade.
Passamos por várias etapas na vida conjugal, mas o investimento no casal necessita ser contínuo e ser do desejo de ambos, mesmo que tenhamos outros papéis a desempenhar.
Pense que mesmo em meio a tantas distâncias vcs possivelmente consequiram conquistas.
bjs

Leila Brasil disse...

Glorinha, o caminho solitário do poeta não é á toa tão bonito.
Assim com há flores lindas e perfumadas atraindo bravos polinizadores por obra necessária da natureza há o olhar do Escritor chamando o coração da gente para ser mais gentil ,ter mais visão.
Naturalmente, as almas mais valentes trabalham , tomam para si a diferença, vencem os ventos e as resistências, constroem túneis vencendo a escuridão , erguem pontes para se entender o estranho sentimento de ler o mundo de outro jeito, diga-se bem maior e generosamente mais belo.

VELOSO disse...

Visitava o blog mundinhoexilado.blogspot.com de minha amiga Nandinha me lembrei de seu post Quando a Realidade Bate à sua Porta quando lia o post Contando História - Teto onde ela fala de impotência existencial será que esse é um preço que todos artista por sua sensibilidade tem que pagar?!

GRITOS

DESESPERANÇA NO FUTURO
ME SUFOCA NO DIA-A-DIA
PROFECIAS DE FALSOS DEUSES
QUE EU AJUDEI A CRIAR
MINHA REVOLTA EU GRITO
MAS POUCOS QUEREM ESCUTAR

Juvêncio Veloso
Passo por essas fases e não é TPM!
Continue gritando ou sussurando ajuda!

cucchiaiopieno.com.br disse...

Amiga querida
Quem sera' que nao vive entre dois mundos? Acredito na química das diferenças e se a perfeição existisse seria tudo muito sem graça!
Bjo no coração
Léia

Glorinha L de Lion disse...

Oi Livia, acho que esse país dos sonhos, onde os poetas e pessoas voltadas para a arte vivem, nem sempre nos traz alegrias. Muitas vezes viver nesse limiar entre o real e a fantasia nos torna uns ets, uns zumbis, sem lugar, falando outra língua entre o resto dos mortais.
Sofremos, mas temos o consolo do nosso mundo interior. Obrigada pela sensibilidade de seu comentário, beijos,

manuela baptista disse...

esta página

são dois mundos

e a filigrana é bela e frágil
mas arranha...

e como eu entendo tão bem o seu imaginário e o viver.de.faz.de.conta!

um beijo

manuela

Glorinha L de Lion disse...

Oi Norma, tem toda razão, mas há momentos em que nos sentimos tão solitários, que tudo o que foi construído parece ruir...é só uma fase, como tantas outras ao longo da vida, obrigada, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Olha Alê, muito bem lembrado. Ainda ontem eu estava lendo as listas dos livros mais vendidos e é de cair o queixo: auto ajuda, baboseira e sub literatura...o melhorzinho é Comer Rezar Amar que nem achei grande coisa, mas no meio da merdelança é o único que se salva...De livro espírita à livro de "iluminação" só tem M@#$%A! Dá até desgosto morar num país desses...e ainda se tem de dar graças porque pelo menos o povo tá lendo alguma coisa! Aff...o que dizer do resto da arte num país de ignorantes, onde o próprio presidente se gabava de ser iletrado e não gostar de ler? Triste, viu? beijos

Glorinha L de Lion disse...

Nossa Leila, que comentário lindo...acho que é isso mesmo, nós poetas existimos pra trazer o belo, construir pontes entre esses dois mundos, mesmo que não haja ninguém para atravessá-la, ela está lá...beijos, obrigada,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Veloso, esse grito deve ser dado sim, pra que não nos sufoque. Quantas vezes essa desesperança bate à nossa porta, nos sentimos sem forças pra continuar sendo como somos? O que nos mantém de pé é nosso mundo interior. Obrigada pelo sensível comentário, só poderia vir mesmo de um artista como vc, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Verdade Leinha, mas às vezes o fosso que se abre entre as pessoas é inexpugnável, como o fosso dos castelos medievais...tem que ter muito amor pra passar por ele e,muita vontade de construir pontes, beijos querida,

Glorinha L de Lion disse...

Manuela, almas de artistas se reconhecem em meio ao deserto de ideias. Filigranas arranham, mas representam o belo do mundo...e sem dor não há poesia. beijos minha querida,

Kelly Kobor Dias disse...

Que texto perfeito, tudo se encaixa perfeitamente.
Saudades de você e aqui do teu blog, espero em breve poder voltar a visita la como antes, beijos

ju rigoni disse...

Identifico-me em muito com o que está ai exposto. Não é fácil enfrentar aquele momento da vida em que assisto o continente a desprender-se, dividindo-se, transformando-se em ilhas que só posso observar a certa distância, e ainda sem compreender, ou aceitar, muito bem o "fenômeno". Salva-me essa paixão incontrolável pela poesia, essa conversa entre "com" e "migo", a providenciar um lugar para os pensamentos que os ventos sopram sem parar aos ouvidos da alma. É difícil conviver com a solidão a dois, a três, a quatro, - a solidão em família. A solidão deveria ser sempre uma escolha.

Querida, um prazer tê-la por lá. Fiquei muito feliz.

Bjs e inté!

She disse...

Uau! Amei, não teria como não amar, né?! Sensações vividas por quem vive para escrever! Adorei!
Glorinha passo tb para te deixar bjo, bjo de feliz Dia da Mulher! ;)
She

Bombom disse...

Como te compreendo, Glorinha!...Quantas vezes caminhamos lado a lado , paralelos, sem conseguirmos encontrar-nos...
Cada ser humano é único e especial! Bjs. Bombom

Glorinha L de Lion disse...

Oi Kelly, obrigada, volte sim, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Ju, que lindo texto! Nem posso considerar isso um comentário, é uma poesia! Concordo e sinto tb assim. Obrigada, querida, prazer enorme te ter aqui, beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Oi She, obrigada querida, feliz semana pós carnaval! beijos,

Glorinha L de Lion disse...

É sim Bombom querida, vidas em caminhos paralelos que às vezes se esbarram pela estrada, beijos,