É um daqueles livros que se termina a leitura, meio que em estado de choque, tal a força dos pensamentos e insights filosofóficos com os quais o escritor nos confronta, forçando-nos, quase que nos empurrando, a refletir sobre eles, sobre a vida, enfim.
Senti esse mesmo tipo de empuxo para dentro quando li As Benevolentes de Jonathan Littell. Ambos livros grossos, de muitas páginas. Ambos livros que nos fazem pensar. E muito. Um, uma epopéia metafórica, outro, um romance, não no sentido romântico, mas sim no estilo de narrativa.
As pessoas, aqui no Brasil, como não têm o hábito da leitura, associam "romance" àquela coisa água com açúcar ou onde há um herói, uma heróina, e os clichês de praxe.
Não, não há nada de romântico no livro As Benevolentes. ( Quem quiser saber sobre o livro clique aqui e aqui. ) Fiquei tão impressionada quando o li que escrevi dois posts sobre ele, exatamente como faço agora com Uma Viagem à Índia.
Traçando um paralelo entre os dois: Ambos falam sobre a maldade humana e até que ponto ela existe em nós e pode ser desperta a um simples toque, a uma ideia, um ideal.
Mas, por favor, não me venham com aqueles comentários do tipo: Eu sou tão bonzinho, não há maldade em mim, não tolero gente má, o homem é essencialmente bom....tudo balela!
Por favor, não me venham com essas baboseiras! O homem é essencialmente mau e as culturas e religiões é que nos compartimentam e nos encaixam em regras.
Se o homem fosse bom não haveria guerras ataques terroristas, dizimação, genocídio, pedofilia, regozijo com a morte de criminosos.
A maldade humana é fato. Povos inteiros são levados a deixar seu lado bárbaro vir à tona, basta uma simples fagulha, um rastilho de pólvora e um fósforo.
Deixo aqui uns trechos de Gonçalo M Tavares para reflexão. Reflitamos pois.
"Eis pois que uma conspiração parece começar.
O que indispõe homens contra homens?
De onde vem a náusea daquele homem
que passeia entre ruínas desertas e
a inveja daquele outro que passeia ao domingo
em ruas repletas de comércio
e de cidadãos competentes? É no sono
que os homens se fazem maus, eis uma possível resposta;
aí, de olhos fechados, nesse acto universal, se cozinha o
[ pão da maldade."
"....De facto, Bloom, já o sabe há muito:
somos inseparáveis do nosso pior.
Pode-se fugir durante anos,
mas cada um é inseparável da sua maldade....."
"....Não se enterra a maldade - eis no que reflecte Bloom -,
ela é apenas interrompida......"
Não estou fazendo apologia da maldade humana, pelo contrário, nem dizendo que só há em nós o lado mau, mas tentando fazer, que ao reconhecê-la, também, como parte intrínseca de nós, saibamos lidar melhor com esse lado obscuro e talvez, assim, ao nos olhar no espelho, saber quem somos, sem negar do que somos feitos.
Foto daqui.
21 comentários:
Ah Glorinha...eu penso o contrário, o homem é essencialmente bom, completo e divino como criação de um bem maior que é Deus.
Como esse mesmo Deus nos deu o livre arbítrio, cada um alimenta o que quiser em seu coração, a maldade ou a luz!
Beijo de boa noite minha querida.
olá glorinha, passei mesmo para te cumprimentar é que tenho pessoas que independente do que escrevem me agradam, tu és uma dessas pessoas,cá por Portugal a vida vai um cinzenta a virar para o preto, e eu tenho andado muito o cupada com o meu voluntariado, beijinhos
Não conheço o livro, mas já vi que é daqueles para se ficar pensando dias e dias. O homem é biologicamente um animal, sua "alma" não está longe da fúria e da irracionalidade, portanto ele é mau e bom. Nos reconhecer assim é uma virtude para poucos!
bjs
Jussara
Oi Sam, acho que temos os dois lados, mas o lado mau prevalece , é só ter a chance! Ou uma boa desculpa. beijos, boa noite,
Oi Xunandinha, puxa vida, fiquei feliz com esse teu comentário. obrigada querida! beijos,
Oi Jussara, concordo! Mas ainda acho que dependendo da ocasião a maldade prevalece, o lado bárbaro só espera a chance e a hora certa, mas vale a pena ler, beijos,
Então, acho que é algo instintivo que está lá dentro e pode ficar adormecido por muito ou algum tempo, mas de repente aflora e quando vemos estamos praticando a maldade, não é isso?
Como diz o poeta: "Não sejas inocentes em demasia
Porque há muita maldade neste mundo
E mesmo a mais delicada das rosas
Precisa ser capaz de oferecer alguns espinhos...
Augusto Branco
beijinhos cariocas
Oi Glorinha
Ainda bem que você não tem aquela comentarista de que te falei. Ah, isso ir render uns 10 e-mails para expulsar teus "demônios". kkkkkkk
Sabe que também acredito muito neste lado mau que por vezes aflorece, mas tentamos e quase sempre conseguimos controlar.
Ainda bem que somos mais pacíficos e só passa por nossa cabeça fazer certas coisas e logo abandonamos a ideia. Vence o lado bom.
Gostaria muito de ler este livro.
Bjs no coração!
Nilce
Sabe Glorinha, nem mesmo quando nos olhamos no espelho conseguimos enxergar - de fato - quem somos...Situações fazem nascer "espécies" internas que des_conhecíamos! Aí temos que dizer: olá, muito ou falta de prazer em conhecê-la. Amada, aproveito prá te desejar um domingo FELIZ ao lado de suas lindezas!
Beijuuss n.a.
Glorinha, estou lendo seu livro.
Semana que vem falo sobre ele.
Somos bons e maus, na medida da necessidade.
Eu sou boazinha, isso sou, mas há uma fera adormecida em mim.
Ontem mesmo, "brigando" com uma filha, falei pra ela "cobras e lagartos", levando-a ao choro. Sei ser má quando preciso. No caso, foi uma maldade benéfica. Precisava sacudí-la.
Não sou má para ferir, enganar, tripudiar sobre a pessoa.
Não sou do tipo que "chuta cachorro morto".
Minha pior inimiga é minha própria língua.
Beijo!
Alê, se a gente olhar o passado da humanidade verá que é muito mais fácil obedecer, dizer amém do que se rebelar ou pensar com sua própria cabeça e arcar com isso. As grandes guerras foram feitas assim...portanto o que vc diz é verdade, é mais fácil ser mau, obedecer ordens e culpar outros por isso...Leia a sinopse que fiz sobre As Benevolentes e entenderá melhor do que falo...beijão amigo,
Talvez seja um pouco mais complexo do que isso Betita, mas se quisermos simplificar, sim, pode ser visto assim...beijos,
Não acho que somos mais pacíficos não, Nilcinha, basta a oportunidade, a hora certa e nosso monstro interior pulará de dentro de nós, claro que guardadas as devidas proporções, pois acho que nenhuma dentre as pessoas que conhecemos é assassino ou psicopata (não que eu saiba, rsrs)beijos,
Acho que há muitas formas de espelhos querida Rê! Ler blogs inteligentes nos fazem refletir e nos enxergar e muitas vezes, e, através do olhar do outro, nos ver tb. Beijos amada, bom fim de semana pra vc tb!
Oi Lúcia, então chegou? que bom! Pois é, tb eu tenho a língua e a pena afiadas, talvez a língua seja a que mais danos cause, Lúcia, por isso te entendo bem...rsrs beijos, boa leitura!
Oi Glorinha, adorei as dicas dos livros! Vou procurá-los, pois eu ainda não os conheço.
O seu livro está lá no meu post de hoje: http://pensamentotangencial.blogspot.com/2011/05/trocar-vicia.html
Bjss, bom fim de semana!
Glorinha, excelente post e excelentissimo ponto de vista.
Todos temos dentro de nós os dois lados da moeda, e quando nos conhecemos melhor aprendemos a lidar com eles.
Todos temos defeitos, somos seres humanos e vamos evoluindo com nosso auto-conhecimento.
bjuss
Somos mesmo essa dualidade sabida, mas em muitos domada ao sabor da cultura e civilidade.
È fato, que ao nos confrontarmos com situações adversas ou perigosas, o instinto animal aflora, como defesa, nestes casos, mas há outras ocasiões que sua manifestação se deve a uma postura escolhida.
Conta uma lenda grega, que a alma humana é representado pela figura dum cocheiro comandando dois fogosos cavalos galopando pelos céus em disparada,provocando grande esforço do cocheiro em guiá-los, pois cada animal da parelha puxa em direção diversa__ o bem e o mal na mesma origem.
Quer a história das civilizações que sigamos acreditando no bem universal, mas sabemos que o mal é figura presente nela.
Minha ação é a de incentivar que o melhor de cada um esteja sempre no comando da parelha.
Linda noite p/ ti.
Bjo,
Calu
Oi Angélica, muito obrigada pela gentileza. Que bom que gostou das dicas, beijão!
OI Dani, que bom ter vc aqui. É verdade, temos essa dualidade em nós, cabe a cada um abafar um e deixar que o outro aflore, embora nem sempre consigamos, beijos,
Oi Calu, que o cavalo do bem sempre prevaleça, é o que desejamos, embora saibamos que no fundo, somos animais, embora na maior parte do tempo esqueçamos disso...E animais atacam, emboscam, não raciocinam quando o lado animalesco emerge, beijos,
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