O Homem Que Mijava Jasmins
Depois do sexo, a urina dele cheirava a jasmim. Não perguntem porque. Ela não saberia explicar.
Mas, quando ele mijava depois de fazer amor, seu mijo possuía notas de flor, adocicadas, em meio ao cheiro forte de urina de macho.
E ele não puxava a descarga. Pegara essa mania. Dizia que puxar a descarga, todas as vezes em que fosse dar uma mijadinha, gastaria milhares de litros d'água, sem necessidade. E o planeta agradeceria. E, afinal, seu mijo cheirava a jasmim, embora disso, ele não soubesse.
Assim, ia juntando, duas, três mijadas no vaso, até que ela, não suportando mais o cheiro de flor misturado à urina, apertava a válvula, demoradamente, gastando os tais litros que ele achava desperdício, jogando no esgoto o perfume e os mijos antigos de seu homem.
Tinha sido seu primeiro amor. Vivia com ele já há uns bons vinte anos. Mas, ultimamente, ele dera para irritá-la.
Pequenas coisas. O jeito desligado, quando não a ouvia e deixava o olhar ir se distanciando, como se procurasse um objeto perdido num lugar qualquer, fora dali. Ela então, parava a frase no meio, irritada, ao constatar que falara sozinha durante vários minutos. O olhar dele mostrava que nada ouvira...
Não achava nada que procurasse, fosse na despensa ou no armário da cozinha. Ou esquecia o rosto de um conhecido, mesmo já tendo sido apresentado a ele inúmeras vezes. Como isso a irritava!
Com algumas manias já havia se acostumado. Acostumado não, mas tolerava. Deixara de se incomodar tanto. O problema era dele, não seu.
Se parecia antipático, se não puxava assunto com alguém...problema dele.
São maneiras, jeitos, idiossincrasias que não nos pertencem, pertencem ao outro. Não nos dizem respeito.
O jeito com que mastigava a comida, 50 vezes, antes de engolir, quando cruzava os talheres e parecia pensar e calcular quantos grãos de arroz havia no prato, demorando horas na mesa, enquanto ela tinha pressa. Ah, como isso a irritava. Engolia a comida, mastigava três vezes, se muito e pronto, acabava. Queria sair dali, tinha mil coisas a fazer.
Enquanto ela tinha pressa de viver, ele não, parecia observar o mundo como quem tem o universo todo e uma ampulheta em slow motion, à sua espera.
Ela não, tinha urgência. O hoje, o agora, o já, é que a interessavam. Era premente viver.
Mas quando ele a tocava, derretia-se.
Suas mãos sabiam seus caminhos. Vinte anos de trilhas percorridas. Compartilhavam seus cheiros, seus gostos. E, quando a tocava, com suas mãos enormes, como se quisesse prendê-la inteira para que nunca escapasse de seus longos dedos, nesse momento, sabia-se sua.
Às vezes, olhava aquele homem, um homem tão comum, como tantos outros, sem beleza, sem charme. Nem inteligente demais ele era. Um homem igual a milhares de outros e se perguntava porque.
Porque ele? Porque não outro? Porque amá-lo? Porque continuar com ele, mesmo tão irritante, e quase sempre, tão distante?
Mas que sabia tocá-la. Ao sentir o arrepio na pele, sabia o porque da sua escolha.
Porque quem escolheu foi ela. Ela, sim. Quem mira e caça é a mulher. É ela quem escolhe a presa e salta em cima, com o olhar, com um gesto. A mulher lança a isca, não o homem. Eles não sabem, mas é assim, desde o início dos tempos.
Ela o escolhera entre tantos, jogara a seta com seu arco de deusa e nem bem sabia porque. Talvez pelo toque de seus dedos, talvez ao sentir o cheiro da sua urina após o amor.
Foi outra vez ao banheiro. O aroma adocicado ainda insistia em suas narinas, pairando, impregnando o ar. Quando se preparava para apertar o botão da descarga, lá estava ele, enorme, frondoso, repleto de flores brancas, saindo do vaso, magnífico: um jasmineiro.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
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42 comentários:
Glorinha, "minha flor"
rsrs
"cê faiz xixi xerozo tamém?"
legal muito legal este conto.
não tenho 20 anos de estrada, vou 11 este mês, mas tem certas coisas entre os casados que são tão interessantes.
o meu marido me olha e meu Deus!
claro que existem mulheres muito melhores que eu.
mas cá estamos juntos.
eu olho pro meu marido e Jesus!
tem dias que dá tristeza, rss
mas cá estamos juntos.
ontem uma amiga disse que não vai ser Amelia de homem nenhum, que não vai casar.
fiquei meio sem graça, confesso, ela parecia tão superior a mim.
mas quando vou deitar, vejo meu hominho roncando, agradeço a Deus por esta oportunidade de viver acompanhada, de ter noites ou dias acalorados, de ter muitos momentos de raiva, também.
valeu Glorinha, pela reflexão que fiz a partir do seu conto.
acho que vou dar um vidrinho de perfume pro meu Sind.
rsrs
beijos
Muito bom seu comentário Lili! E não é assim mesmo que nos sentimos ao lado do companheiro ou companheira que escolhemos pra passar a vida? Mas isso é apenas um conto, claro que tem coisas de mim, mas é só um conto, uma estória, que fala de amor e de não sabermos pq amamos, ou talvez, fale pq saibamos, sim! E olha, eu sou casada há quase 33 anos. Haja amor! hehehe beijos,
Glorinha, por vezes vi meu marido. (não que sua urina cheire a jasmim...).
O amor não tem explicação.
Sempre defendi que quem conquista é a mulher.
Por muito tempo defendi ferrenhamente o amor homem/mulher.
Hoje estou triste.
Mas amanhã posso estar bem de novo.
Beijo!
Adorei o conto, pena que o cheiro de jasmim acabe né? beijos
Oi Lúcia, verdade verdadeiríssima! Amor não tem explicação. Mas sai dessa tristeza amiga! Escolhe alguma coisa muito sua pra fazer e foca nisso. Sonhos não envelhecem Lúcia! ACREDITE NOS SEUS! beijo grande!
Nem sempre Kelly, às vezes brota um jasmineiro....bjs,
Ah, mas eu não ia perder esse conto por nada desse mundo...gostei muito Glorinha!
Eu adoro cheiro a jasmim...principalmente se não vem dentro dum vidro, mas é o cheiro da flor mesmo, misturado numa noite quente.
Os cheiros estão ligados ao amor...as feromonas, diz-se que aumentam a atracção entre duas pessoas. e que existem em todos os animais e humanos, para atrair o sexo oposto..há quem reduza o amor a química...quem sabe um dia se venda em fraquinhos coloridos...
Mas este amor que vc descreve, passa por mãos percorrendo um corpo, como as ruas duma cidade que vamos desvendando e que se entrega no final do dia...
Idiossincracias? Quem não tem?
Que importam quando vemos jasmineiros floridos em sítios inesperados?
Lindo amiga querida!
TERNURASSSSSSSSSSSS
LOLI
Eu gostaria muito que meu filho e meu marido fizessem xixi com cheiro de lavanda.. rsrs.. bem que podiam!
Guxa, muito romântico o seu texto, mas eu acabei rindo em algumas partes por conta dessas "distrações" masculinas que tanto nos incomodam. Não tem como não nos enxergarmos enquanto lemos.
Saudades de tu!
Agora tô de volta firme e forte!! rsrs
beijos
Oi Loli! Fico feliz que tenhas gostado! Pois a graça da vida é ver jasmineiros a florir dentro do vaso do banheiro...hehe! O amor não se explica, não é mesmo? Ah gostava tanto de teu outro avatar, parecia um camafeu antigo... Grande beijo perfumado a jasmim pra ti!
Oi Guxa, saudades de tu" tb! Vc anda muito sumidinha! Manda o Fabio e o Natan beberem uns frascos de perfume, quem sabe assim, fazem xixi cheiroso? hehehe beijos,
Olá querida Glorinha,
Gostei bastante, muito «sui-generis», quem iria pensar que a urina de um homem podia cheirar a jasmim? Eu não, o meu marido é distraído e o que eu puxo mais é o autoclismo e não, não cheira a jasmim! Mas há de facto coisas muito estranhas que podem acontecer, como as feromonas, que mantêm duas pessoas ligadas, às vezes tão antagónicas!
Gosto da forma como contas, dos teus detalhes que tão bem batem com a realidade!
Beijos,
Manú
Que delícia Glorinha: Cheiro de jasmim. E assim os casais seguem em parceria, ãão pertp e tão distantes. Nesta balança mora o segredo de ser duradouro ou não.
bjs.
AMEIIII esse "mijador"! Vou ver se consigo fazer - o que chamo de meu rsrs - ler esse conto e comentários.
Beijuuss, perfumados, n.c.
Oi Manu, querida: inventei este conto, claro que baseado no meu excelentíssimo marido, em algumas experiências pessoais, mas algumas coisas não, foram invencionices, licenças poéticas mesmo...Mas os tais feronômios, devem ser eles os culpados por nos apaixonarmos por uns e não por outros, com certeza! beijos,
Oi Norma, fiz um conto cheio de surrealismo e realismo fantástico, baseado em alguns fatos reais. O real nem sempre é imaginário e vice versa...e além disso, amor e casamento não tem receita, pode dar errado, mesmo que o homem urine jasmins...rsrs, bjs,
KKKKKKKKKKK, Ai Rê, só vc mesmo pra me fazer rir a essa hora das madrugas....vai lá, faz o que tu chama de teu ler isso, quem sabe assim, tb mija perfumado? hehehe beijão, boa noite!
Oi Glorinha
Adorei o conto e ainda, mesmo depois de 10 anos, mesmo o marido não mijando jasmim, rsrs, sinto arrepios quando o vejo ou quando me toca.
Mas já passei por um casamento em que mesmo que mijasse rosas, sentiria ardor nas narinas.
Só descobri que nós é que conquistamos depois do segundo casamento e também somos nós mesmas que o sabemos e conseguimos mantê-los.
Saudades muitas de você.
Bjs no coração!
Nilce
KKKKKKKKKKKKKK Ai meninas vcs me fazem rir madrugada a fora! Isso lá são horas de lembrar que o ex nem que mijasse rosas agradaria? Olha, arrepio quando o nosso amor nos toca é uma das melhores coisas da vida, né? Acho que meu conto do homem que mijava jasmim vai render uma legião de fãs pro meu excelentíssimo...vai ficar se achando...e achando que o homem do conto é ele...hehehe beijos,
Querida Glorinha,
Amo seu jeito doce de falar de situações que deixamos à revelia na vida, normalmente, por puro preconceito. Algumas coisas na vida já nos chegam rotuladas como cheiro bom ou cheiro ruim. Na realidade, se não formos irreverentes não nos são dada a oportunidade de definir cheiros do nosso jeito, com a nossa essência...
A urina cheiro de jasmim chegou para mim como uma grande reflexão.
Fiquei pensando, se os cheiro que sinto na vida são determinados por mim ou pelo que disseram deles? Por exemplo: cheiro de flor denota algo muito bom mas nem sempre é, não é mesmo? Cheiro de urina denota algo ruim, mas às vezes pode ser cheiro de flor.
Percebo que tudo depende de cada pessoa na sua individualidade.
Belíssima, humorada e reflexiva postagem!
Você é maravilhosa! Feliz de quem tem o privilégio de compartilhar da sua estrada!
Ai Glorinha,
O meu não "mija" cheirando a jasmim, mas jamais esquece de levantar a tampa, isso já ajuda né?
Com quase 10 anos de relacionamento, até que me vi nestas implicancias, ahahhaah.
Mas agora, o cheiro dele(não do mijo), ahhhhh,sempre foi minha perdição. Porque ô nego cheiroso que eu tenho. E o cheiro bom da pele independe de perfumes. Bom demais!
Adorei o conto Glorinha!
Super beijo para vc!!!
Oi Minha doce amiga Maria Helena...não são todos os que entendem esse meu "jeito" de ser...hj sou muito mais livre pra escrever o que me vem à cabeça, sem limitações ou preconceitos e fico feliz demais quando me compreendem. Obrigada pelo comentário maravilhoso! Beijos,
Oi Lu, homem cheiroso é a coisa mais gostosa do mundo...o meu é. Obrigada Lu, adoro quando gostam do que escrevo, hehe...Beijão,
Estou de volta e venho desejar um ano novo pleno de prosperidade ,paz e amor.
Beijo.
Oi Meu amigo! Bem vindo de volta! Te desejo o mesmo, em dobro! Beijo grande!
Glorinha,
Que beleza de conto! Muito criativo, gostoso de ler, diferente do habitual.
Parabéns!
Socorro Melo
Obrigada Socorro. De vez em quando minha imaginação viaja até outros planetas mesmo...hehe beijos,
Dona Grorinha,
Quero saber onde achar um cheiroso desses por aí, cê sabe?
E este conto está me lembrando da tal Saramandaia, novela fantástica que passou no tempo do onça, mas que era bem legal e cheia de personagens como esse mijão cheiroso.
Muito legal sua estorinha.
bjs cariocas
Vc tem twitter?
Uau, Glorinha!!
Quanta criatividade!! Ficou bem divertido, li num fôlego só! Adorei!
Também já procurei os motivos e mais motivos de amar o meu marido... Qualidades?! A inteligência, o sorriso, o olhar, o calor do corpo... Todas elas podem ser encontradas em mil e outros mil homens... Os atributos são tão anônimos quanto um cargo, um título, nada mais... Mas há fatores que os diferenciam: questões de química, magnetismo, história construída pelo casal...
Se nos prendermos apenas às qualidades particulares nunca amaremos verdadeiramente ninguém (diria Pascal). É a singularidade que distingue as pessoas e as torna especiais e insubstituíveis. O que não quer dizer que já nascemos singulares, mas vamos construindo-a ao longo de nossa existência. E só a singularidade é capaz de fazer do amor um elo transcendental.
Esteja certa de que seu conto é um caso singular!
Um beijo!
Que delícia de conto!
Oi Betita, sei não...se souber onde tem esses homi que mijam jasmim, te conto...hehehe bjs,
Oi @llacerdaa, tenho não, bjs,
Tem razão Lívia. Todos somos únicos, inigualáveis e inimitáveis...Quanto ao meu conto, fico feliz que tenha gostado...me inspirei num certo cheiro de jasmim...beijos,
Obrigada Pérola, bjs,
Gostei muito de ler este teu conto. Só tu para falares de um tema tão prosaico com tanta graciosidade e realismo! O que eu me ri a imaginar os jasmins a nascerem e ele a regá-los!(He, he).
Bjs. Bombom
Glorinha adorei o conto, sabe q vejo assim tbm quem escolhe o parceiro é a mulher, ela q é a caçadora.
e não é q o amor não tem explicações..simplesmente ele é e ponto.
Um lindo 2011 para vc.
bjs
Tb adorei esse conto...
beijinhossssssssssss
KKK Ai Bombom, ele rega o jasmineiro! hehehe adorei sua interpretação...isso mesmo! Adoro quando me entendem. Beijos, querida.
Realmente Nika, o amor é, e ponto, disse tudo, bjs,
Obrigada Alis, bjs,
Espero que ela nunca se tenha perfumado com a urina dele. rsrsrs
Hum...! A libido dos aromas corporais...
Na verdade cada um vive ao seu ritmo. E se tentar forçar uma mudança, então a harmonia se quebra. Não é por todos acenarem com a cabeça do mesmo jeito e para o mesmo lado que tudo fica mais harmonioso.
Quanto a quem é o caçador... o homem escolhe a presa para comer, a mulher escolhe a presa para aprisionar. Será assim que entendi o texto?
Um abraço e parabéns pelo pequeno conto
Olá meu amigo Man Drag! Taí, gostei de tua colocação! Que boa polêmica isso renderia...Será que a mulher aprisiona e o homem come? Não serão os dois que se devoram depois de se aprisionarem, antes, nas redes do amor ou da paixão? Isso é um ótimo tema pra fazer um post! Ah, as relações humanas! Quantos contos se poderia fazer delas! Adorei teu contraponto! beijos,
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