quinta-feira, 1 de abril de 2010

As Santas Semanas Da Minha Infância...Prazer - Parte 1



Algumas reminiscências das Semanas Santas da minha infância são carregadas de doçura, simplicidade e encantamento...verdadeiros bálsamos na minha alma sedenta de coisas novas, ansiosa por liberdade, verde, bichos e alegria, como eram os dias passados no sítio de minhas tias postiças, amigas de minha mãe e de minha avó...
Era uma família enorme de tios e tias, todos solteirões...que eu me lembre só 2 ou 3 se casaram...uma, era madrinha de batismo de meu irmão, tia Helena, uma mulher muito bonita que nunca quis se casar, acho que era uma daquelas mulheres à frente do seu tempo, sempre muito brincalhona, vestida de tailleur e dirigindo um Volvo, coisa raríssima naquele tempo...Uma de suas irmãs, tia Carmen, pintora, era mais gorduchinha, mas todos diziam que havia sido linda quando moça e se tornou minha madrinha de crisma mais tarde...Eram muitas tias e tios, todos com nomes ou apelidos engraçados para meus ouvidos de criança: Pequenina, madrinha de casamento de meus pais, Joaquina, sua irmã, de quem eu tinha um medo enorme, pois estava sempre carrancuda...Chincha, apelido de Joaquim, médico, um fanfarrão, sempre brincando com meu pai...e tinha muitos mais de quem não me lembro muito bem...
Quando nos reuníamos no sítio de tia Pequenina  era sempre uma festa! Nas Semanas Santas então, que alegria! Lá para mim era sempre dia de festa, pois, criança criada em apartamento que era,  podia correr, andar solta, foi onde montei à cavalo pela primeira e única vez... colhia frutas nos pés, menos os caquis da entrada...esses, tia Pequenina não permitia que pegássemos, pois eram propriedade privada dos passarinhos...E assim, ía tendo minhas primeiras aulas de amor à natureza, aos animais, ao verde que marcariam minha vida para sempre...


Me lembro especialmente de uma Semana Santa lá, quando as tias fizeram um Judas gigante, vestiram -no de terno e gravata e encheram seus bolsos de amendoim...quando colocaram fogo no boneco à noite, ouvíamos os amendoins estalando nos bolsos e, torradinhos, caírem no chão, onde os descascávamos e comíamos sôfregos...
Uma vez, a sempre sisuda tia Joaquina, me chamou para ajudá-la numa tarefa, que para mim, representou um maneira de dizer-me que ela gostava de mim, mas à seu modo. E seu modo era dar ordens...me mandou pintar com cal o galinheiro...Passei o dia com ela caiando as paredes e prateleiras...e no final da jornada, eu, toda suja, mãos queimadas e feliz, admirei nossa obra...o galinheiro devidamente caiado para as senhoras galinhas e galos se empoleirarem...E a partir desse dia, tia Joaquina cresceu no meu conceito...



Quantas estórias deliciosas...foi lá que vi, pela primeira vez, um cavalo "cobrindo" uma égua no cio...vi porcos, galinhas, frutas, fogueiras...Onde brincava com pintinhos e via patos nadando no laguinho...
No quarto de dormir, onde ficávamos, havia mosquiteiros nas camas, e eu, me sentia uma princesa a dormir numa cama com dossel...E morcegos? Muitos...entravam pela casa a dentro, às cegas, e eu tapava a cabeça com as cobertas...

Foram muitas e muitas nossas idas e estadas no Sítio, mas as de Semana Santa e as das Festas Juninas me marcaram para sempre...lá pude ser a criança livre, encantada com tudo o que via...
E, delícia das delícias, não precisava beijar imagens e nem ir à igreja...
Aliás, enquanto estava lá, nem me lembrava dos roxos e Cristos ensanguentados da Semana Santa...
Lá foi onde descobri e, somente, anos mais tarde tive consciência disso, o significado das palavras Viver, Liberdade e Natureza e a absoluta certeza de que a verdadeira comunhão se faz, quando aprendemos a olhar para trás vendo que somos fruto de tudo o que vivemos e apreendemos, sem nos culpar por isso...



9 comentários:

Anônimo disse...

Suas histórias são delicíosas de se ler.
Parabéns,beijokas.

Unknown disse...

Que delícia de relato! Era como se eu estivesse passeando pelo sítio de Pequenina e praticamente pude ouvi-la dizer: "Crianças deixem os caquis dos passarinhos em paz!"... kkkk... Lindo!
beijos

Astrid Annabelle disse...

Olá Glorinha!
Como é gostoso "ouvir" essas histórias encantadas...
Parabéns...está lindo e doce este post.
Beijo
Astrid Annabelle

chica disse...

Havia lindo antes de ler a parte II e fiquei empolgada. Volto aqui pra comentar : simplesmente divino e tanta coisa linda, natural aprendizados de vida e ainda mais, enfeitados pelas belas imagens, me fizeram viajar...Lindo!beijos,chica

Lúcia Soares disse...

Um post lindo, Glorinha.
Ando pensando mesmo que perdi a minha religião e encontrei a minha religiosidade, que me faz respeitar as datas sacras, mas não me tocam como antes.
Celebremos a Paixão, (no sentido de muito amor) de Cristo por nós, e não a paixão (sofrimento) Dele.
Bj

Dani Franken disse...

Bravo! Bravíssimo... Linda história. Curioso, no sítio da minha família, as bananas que são propriedades exclusivas dos macacos rsrsrsrs!
bj
Dani

Manuela Freitas disse...

Que maravilha Glorinha, vivência extraordinária e tu contas tudo com tanto realismo e prazer!...
Gostei muito!...
Tenho andado fugida, ontem fez anos a minha filhota!...
Beijinhos querida,
Manú

Beth/Lilás disse...

Glorinhaaaaaaaa,
cadê meu comentário? Escrevi um monte ontem a noite e sumiu...
vocë fez o quë com ele? hehe
bjs cariocas

Glorinha L de Lion disse...

Pérola, Mila,Astrid, Chica é bom saber que nossas estórias de vida são agradáveis de ler...obrigada pelo carinho, bjs.

Lucia, que bom que se encontrou...eu tb me encontrei, mas justo no sentido de entender que isso tudo são fábulas contadas através dos tempos...bjs.

Dani, aqui em casa são as pitangas que são dos passarinhos...bjs.

Manu, parabéns pra tua filhota...felicidades para todos! Bjs.

Beth, ontem fiquei sem internet quase o dia todo...vai ver seu comentário cansou de esperar e foi parar em outro blog...hehe...bjs.